quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Trilha dia 1: Rumo ao Salkantay

Começamos a jornada rumo ao monte Salkantay com o objetivo de chegar ao santuário de Machupicchu, no quinto dia de caminhada. Tivemos que acordar cedo pois às 5h uma van passou no hostal para nos transportar. Nela já estavam o restante do nosso grupo, que por coincidência eram 3 brasileiros, também vegetarianos. Estava começando uma nova fase da viagem, pois poderíamos conversar em português, já que na primeira fase foi em espanhol (na verdade portunhol) com o Max e a Claudia, na Bolívia, e na segunda fase em inglês, com o holandês Jesse. Os brasileiros que estavam no grupo conosco são o Alessandro Lohmeyer e a Luana Wedekin (casados), e o Leonardo Wedekin, irmão da Luana. Eles são de Floripa, mas o Leonardo está morando na Bahia.


O dia foi amanhecendo bonito, com sol, prometendo uma linda trilha. Viajamos umas 3 horas a partir de Cuzco até chegar em um povoado onde foi possível tomar um desayuno (café da manhã) reforçado para encarar a caminhada. Nesse momento tivemos contato com o nosso guia, o Carlos Chuchullo, um peruano gente boa que falava muitas coisas sobre o Brasil. "Brasil, o mais grande do mundo!" era o seu clichê, que depois descobrimos ser uma brincadeira que eles fazem em referência ao Pelé. É impressionante como a maioria das pessoas, de qualquer nacionalidade, simpatizam com o Brasil... :-)


Estávamos a 2.800 metros de altitude e a caminhada começou numa estradinha bucólica do povoado, em meio a plantações e criações de animais. Haviam também outros grupos com guias, aproximadamente umas quarenta pessoas na trilha. A Trilha do Salkantay é uma alternativa à Trilha Inka, na qual entram 500 pessoas por dia. Mas como é mais dura e longa, e com um dia a mais de caminhada, um número bem menor de pessoas a encaram, cerca de 30 a 50 por dia. Pessoas do mundo todo...


Iniciaram as subidas! Não demorou para algumas pessoas começarem a passar mal... Juntamente com os mochileiros e guias, acompanham o grupo um cozinheiro e um ajudante, com alguns cavalos e/ou burricos, levando as coisas para o acampamento (barracas, panelas, comida, etc.). Eles levam alguns cavalos extras para revezar a carga durante o caminho e para apoiar as pessoas que estejam sem condições físicas de continuar. Já na primeira subida uma norte-americana pediu um cavalo. Não dá para subestimar a altitude!


Seguimos subindo durante umas 3 horas, descansando um pouco de hora em hora, até chegar no ponto de almoço do primeiro dia. Nosso cozinheiro Juvenal já estava nos esperando com a comida pronta. Foi uma festa! Depois de horas caminhando qualquer coisa vira um banquete, mas a comida do Juvenal, totalmente vegetariana, realmente nos surpreendeu. Estar bem alimentado na trilha é importante pois gasta-se muita energia.


Depois de uma pausa retomamos a trilha, que logo a frente revelou um vale imenso com uma montanha nevada ao fundo. Era o Apu Umantai, uma das principais montanhas da cordilheira dos Andes central. É para lá que fomos, em busca da montanha pelo resto da caminhada. Algumas horas à frente, e depois de muitas fotos, estávamos chegando ao pé do Umantai. Lá já estava montado o nosso acampamento e o Juvenal já havia começado a fazer o nosso jantar.


Quando chegamos, após ter caminhado 18 quilômetros, o Umantai nos revelou ao lado direito seu antigo companheiro, o Apu Salkantay. Os nativos consideravam as montanhas como lugares sagradas, são a casa dos deuses, por isso seu nome começa com "Apu". Dizem que as montanhas tomam vidas, por isso sacrificam animais em oferenda a elas. Segundo o nosso guia, até hoje nenhum homem chegou ao "cumbre" do Salkantay, todos os que tentaram não voltaram. A subida é muito íngreme, o que dificulta a gelada escalada.


A água do degelo do Umantay e do Salkantay formam o rio Urubamba, que torna-se mais adiante o nosso rio Amazonas, daí a importância destas montanhas. E por falar em degelo, estava frio, muito frio, e a noite, dormindo em barracas, ficou pior. Vestimos todas as roupas que tínhamos para deitar dentro do saco de dormir, e mesmo assim ele não deu conta, os pés ficaram gelados como picolé.


Foi uma noite mal dormida, que nos incomodou um pouco pois no outro dia o desafio seria grande: Subir o Salkantay! Mas isso não é nada, pois ver as montanhas dos Andes a noite, iluminadas pela lua, e dormir aos seus pés, não tem preço!


E as coxas começaram a ficar bambas... ;-)

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