domingo, 17 de outubro de 2010

Trilha dia 5: Chegada em Machupicchu

O santuário de Machupicchu é um lugar muito visitado diariamente, cheio de turistas de todos os tipos e de todas as partes do mundo. Não há limite de número de visitantes a ingressar na cidade, mas há limite de 500 pessoas por dia na Trilha Inca e os 400 primeiros que chegarem na cidade poderão obter permissão para subir a montanha de Winapicchu, e terão acesso a uma vista privilegiada das ruínas. Por causa desse limite há uma certa competição entre os turistas para chegar cedo e obter o carimbo em seu bilhete de ingresso. Os portões de acesso para subir a montanha abrem às 5h, o que faz com que as pessoas acordem muito cedo para tentar chegar antes.


Havíamos combinado com o Carlitos e com o pessoal do nosso grupo que tentaríamos o carimbo para Winapicchu e que iríamos subir caminhando pela trilha. Isso requeria que acordássemos às 4h e abriríamos mão do desayuno, pois ele só começava às 4h45, para chegar no portão antes da abertura. Porém ao acordarmos vimos as pessoas correndo pelos hotéis, competindo para sair antes e caminhar mais rápido. Decidimos que não entraríamos nesse clima, abriríamos mão de Winapicchu para tomar um café da manhã reforçado, com calma e paz, subindo a montanha de ônibus, poupando assim as pernas para caminhar durante o dia inteiro pelas ruínas Incas.


Quando chegamos na entrada de Machupicchu o pessoal já estava nos esperando, mas haviam chegado fazia somente uns 20 minutos e disseram que a caminhada tivera sido bastante dura até ali, especialmente para os joelhos, pois precisaram vencer uma elevação dos 2.500 para os quase 3.000 metros de altitude. Nossa surpresa foi que eu e a Rafa ainda conseguimos obter o carimbo de entrada a Winapicchu e, além disso, estávamos descansados para encarar um dia inteiro de exploração. Valeu muito essa decisão e também a sorte que tivemos.


Normalmente, de manhã cedo Machupicchu inteira está coberta por névoa. Entramos na cidade com o Carlito nos explicando coisas e contando a história daquele lugar e naquele momento não era possível ver muito além do perímetro do  grupo. Então, logo a neblina começou a se dissipar e revelar as muralhas da cidade, e enquanto o Carlito falava todos começavam a tirar fotos. Não tem como deixar de admirar aquela incrível obra de engenharia, construída pelos Incas no século XV.


Quando "redescoberta" pelo norte-americano Hiram Bingham, no século XX, haviam três famílias nômades morando lá. Para o Império Inca a cidade era um santuário, um refúgio especial, usado para rituais, cerimônias religiosas e abrigo aos nobres (os denominados Incas, pois o povo eram os Quechua). Eram poucas famílias que moravam na cidade, quando ela foi isolada no século XVI, com a chegada dos espanhóis. Os próprios Incas destruíram o caminho Inca de Ollantaytambo para impedir que eles chegassem à sua cidade sagrada, cuja construção ainda não estava concluída (nunca fora).


Depois de um passeio guiado pela cidade nos despedimos do amigo e guia Carlos Chuchullo, quem nos havia acompanhado e ajudado ao longo da trilha, durante os últimos 5 dias. Deixamos com ele 20 merecidos soles de regalo. Então ficamos explorando a cidade, que é enorme, durante o restante do dia. E não é mole, as ruínas, embora grandes, ainda tem outros atrativos fora delas. Por exemplo, fomos visitar a Ponte Inca, que é um longo caminho de saída da cidade, construído estrategicamente na lateral da montanha, circundando-a. Era uma espécie de rota de fuga, onde os governantes poderiam sair e impedir outros de os seguirem, pois é possível desabilitar algumas passagens.


Chegou o nosso horário de subir a montanha Winapicchu, que normalmente aparece em fotos atrás de Machupicchu. São 2 horários de entrada na trilha, duzentas pessoas entram às 8h e duzentas pessoas às 10h, horário que havíamos escolhido por normalmente não ter mais neblina. Encontrei o Alessandro na fila e entramos juntos na trilha, começamos a subir em meio à mata que cobre todo o cenário. Quando olhei para o horizonte vi uma chuva pesada cobrindo o vale e vindo em nossa direção. Lembrei que eu havia deixado com a Rafa meu anorak e eu estava com a câmera fotográfica. Iria molhar tudo pois estava sem proteção alguma contra chuva. Não demorou muito e a chuva nos atingiu. Eu teria que abortar a "missão" e voltar para as ruínas, se quisesse garantir as fotos e vídeos que havíamos feito até então. Lamentei, mas tive que desistir de subir Winapicchu. O Leonardo e o Alessandro subiram e disseram valer muito o esforço da pesada subida. Capturaram ótimas fotos lá.


Outro lugar bacana de visitar é a porta do sol, por onde o Caminho Inca chega à cidade por cima das montanhas. De lá tem-se uma visão incrível das ruínas, dos vales e montanhas e até da cidadezinha de Águas Calientes, lá embaixo ao lado do rio. Eu e a Rafa subimos na metade da tarde e quando chegamos haviam muitos idosos alemães sentados admirando a linda vista. Também ficamos um bom tempo por lá.


Já no final da tarde voltamos às ruínas e encontramos o restante do pessoal do grupo e até alguns de outros grupos da trilha Salkantay. Depois de dias caminhando juntos todos tornam-se conhecidos. Voltamos com eles para Águas Calientes de ônibus, pois as coxas já estavam muito bambas de explorar Machupicchu. Voltaríamos para Cuzco de trem, às 19h30, mas antes disso deu tempo de passar em um restaurante com o pessoal para jantar.


O trem nos levou até Ollantaytambo, então apanhamos uma van até Cuzco, que nos deixou na Plaza de Armas. Voltamos ao mesmo hostel Camilah Lodge, onde havíamos deixado algumas coisas que não precisáramos na trilha. Depois disso tudo precisávamos de um banho quente e de uma boa noite de sono para poder seguir viagem no outro dia.


Cansados, de coxas bambas, mas felizes da vida depois dessa intensa experiência que durou 5 dias...

sábado, 16 de outubro de 2010

Trilha dia 4: Uma Parada em Águas Calientes

O quarto dia da trilha foi parecido com o terceiro, dia ensolarado porém bastante úmido por causa da chuva da madrugada. Acordamos antes de todos pois estávamos mais confortáveis por ter dormido em um quarto, com uma boa cama. Uma caminhada no acampamento e deu para perceber o estrago da chuva, algumas barracas quase desmontaram. E o pessoal começou a acordar e estender ao sol as roupas e equipamentos que haviam molhado. O engraçado é que não havíamos pego chuva na viagem, até colocar o pé na trilha. Murphy? :-)


A van nos levou até o início da trilha onde nos despedimos do cozinheiro Juvenal, deixando-lhe 15 soles cada, como regalo. Nesse dia a trilha é especialmente bonita. Nos outros dias também, mas esse é o dia em que contornamos toda a montanha onde está Machupicchu, desde a parte de trás, caminhando no meio da mata tropical e ao lado do rio.


A paisagem é fantástica e dá para entender porque os Incas escolheram aquela montanha para construir sua cidade mais especial. Ela é uma fortaleza natural, rodeada por montanhas e um paredão de pedras que esconde a cidade de quem entra no vale. Olhando de cima esse paredão de pedras é a continuação da grande e admirável montanha Winapicchu.


A trilha segue suave ao lado da estrada de ferro por onde passa o trem que leva as pessoas até Águas Calientes. Aos poucos ela vai revelando as ruínas da cidade, lá no alto. Novamente, após duas ou três horas de caminhada a chuva chegou. Bota casaco, tira casaco, é assim mesmo, frio, calor, sol e chuva, a cada meia hora muda tudo. Mais uns dez quilômetros de trilha e chegamos na linda cidadezinha de Águas Calientes, que é o ponto de partida dos que vão a Machupicchu, a menos que cheguem pela Trilha Inca, a qual entra por trás da cidade, já no alto da montanha.


Em Águas Calientes dá vontade de ficar uns dias a mais. É uma cidade onde a atividade principal é o turismo, então tudo é bonito, limpo, caprichado, ah, e caro também! Ficamos no hostel Matchupicchu, o mais limpo e completo da nossa viagem, até então. Depois de fazer 60 quilômetros caminhando, como isso faz diferença. Antes de dormir, nós cinco do grupo jantamos junto com o nosso guia, o Carlitos, que nos passou todas as instruções de como seria o próximo dia para subir a montanha até Machupicchu. Combinamos que iríamos tentar uma vaga para subir Winapicchu, então precisávamos estar as 5h no portão de entrada para a montanha.


Depois de uma caminhada de reconhecimento pela cidadezinha fomos para o hotel e "desmaiamos" de cansaço, pois las coxas estavam muy bambitas...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Trilha dia 3: Banho nas Águas Termais de Santa Tereza

Novamente o dia começou lindo, com sol brilhante e céu azul. Saímos cedo do acampamento, creio que fomos o primeiro grupo a deixá-lo. Descemos até o rio Urubamba e o atravessamos. Então a trilha segue o vale, ao lado do rio. A partir do terceiro dia a trilha do Salkantay torna-se mais amena, pois são só 10 quilômetros diários, a maioria a descer, em baixa altitude e com a mata e o rio nos acompanhando.


Antes de colocar o pé na trilha nos despedimos do ajudante Fidel, onde cada um do grupo deu 10 soles de regalo, que retornou à trilha para levar os burricos e os equipamentos de volta. É costume dar uma ajuda de custos para o cozinheiro, o ajudante e o guia, na despedida, pois o que as agências pagam a eles não é justo pelo esforço feito, e também como gratidão pelo apoio pois sem eles as coisas seriam bem mais difíceis.


Cerca de duas ou três horas de caminhada e o dia que estava lindo mudou, voltou a chover. Nas montanhas não existe previsão do tempo que funcione, de uma hora para a outra tudo muda. Mas tudo bem, a pior parte já havia sido superada.


Em trilhas longas é preciso tomar muito cuidado com pelo menos quatro coisas: 1) Bolhas nos pés - Um calçado bom e já usado faz diferença, mas também é indispensável uma boa meia, de preferência com alguma tecnologia tipo Gore-Tex ou Coolmax que não deixe os pés úmidos. 2) Cuidado com a coluna - Nesse caso uma boa mochila, acolchoada e com cinta faz diferença, pois você poderá tirar o peso dos ombros e protegerá as costas. Bastões de caminhada podem parecer frescura, mas no final da trilha farão toda a diferença e também servirão como estabilizador durante a caminhada. 3) Cuidado com os joelhos - Principalmente nas descidas é importante não dar trancos nos joelhos, pois depois de um dia inteiro caminhando você poderá não levantar no dia seguinte. O bastão de caminhada também ajudará a protegê-los. 4) Usar roupa impermeável - Ficar molhado na trilha será um problemão e poderá prejudicar o desempenho e a saúde. Além de que pés molhados resultam em bolhas. Importante também a mochila ter proteção, para não molhar suas coisas.


Depois de algumas horas caminhando, chegamos com o sol brilhando no início de uma estrada de terra, onde uma van estava nos aguardando. Decidimos não ir caminhando nessa estrada pois não é nada agradável comer poeira a cada carro que passa, além do risco de algum acidente. A van nos levou a um povoado chamado Santa Tereza, onde o acampamento já estava montado. Esse povoado foi totalmente destruído em 1997, quando o rio Urubamba encheu demais por causa das chuvas em excesso e arrastou tudo. Foi reconstruído um pouco mais acima no nível do rio, mas a situação lá ainda é um pouco precária.


Deixamos as mochilas no acampamento e fomos para os banhos termais, cujas fontes ficam na margem do rio. Durante as enchentes que ocorreram em toda a região, em janeiro desse ano, as termas foram destruídas novamente e até então foi restaurado somente o poço maior. Por esse motivo não estão mais nem cobrando o ingresso, pois tudo ainda está em ruínas. Mas acredite, foi maravilhoso um mergulho em uma fonte natural quente, depois de dias caminhando e sem tomar banho. Voltamos ao acampamento renovados!


O acampamento ficava no pátio de uma pousada que ainda estava em construção. Nela só havia um quarto disponível. Depois de três dias caminhando estávamos precisando descansar bem, então "trapaceamos" e decidimos não dormir na barraca, alugamos o quarto juntamente com o Alessandro e a Luana. Foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado, pois durante a noite choveu muito e inundou a maioria das barracas do acampamento. No outro dia o pessoal estava reclamando que haviam dormido mal e/ou que suas coisas tinham molhado. E nós secos e descansados, ah, e de banho (quente) tomado! ;-)


As coxas continuam bambas, e agora os joelhos e os pés também estão um pouco doloridos, mas tudo está indo muito bem...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Trilha dia 2: Vencemos o Salkantay

O sol raiou lindo e lá pelas 5h da manhã começaram os movimentos no acampamento. O Fidel, auxiliar do nosso cozinheiro Juvenal, nos acordou com um chá quente servido na porta da nossa barraca. Percebemos os estragos da trilha e da altitude, até então, quando vimos algumas pessoas passando mal ou que já haviam desistido. Arrumamos as mochilas, tomamos nosso desayuno e logo começamos a caminhada em direção ao Salkantay, antes que o sol atingisse a nossa trilha.


No início a trilha estava fácil, pois a inclinação era pequena. Logo que o sol nos atingiu começamos a tirar as várias camadas de roupas. É impressionante como nessa região o clima muda rapidamente, às vezes em questão de minutos ou metros. Você sempre tem que estar com uma blusa ou anorak à mão.


Logo chegou a pior parte da viagem, subir a montanha. Estávamos a 3.600 metros de altitude quando a trilha começou, e logo iniciou seu zigue-zague na montanha rumo aos 4.600 metros. O corpo inteiro sente e cada passo torna-se uma luta. Para piorar o ar vai ficando rarefeito e o pulmão parece uma gaita fole. Não demorou muito e mais algumas pessoas jogaram a toalha e pediram um cavalo.


E lá vem os burricos, coitados, carregando todo o equipamento do acampamento. Eles e os carregadores deixam o acampamento depois de todos, e chegam antes de todos no próximo ponto. Imagine o que passam já que essa é sua rotina diária. Não é raro encontrar o esqueleto de algum, cuja montanha tenha "tomado a vida".


Depois de algumas horas subindo, passamos por uma linda lagoa fomada pelo degelo, paramos para descansar e sacar umas fotos. Mais um pouco e chegamos em 'El Paso', o lugar mais alto do Salkantay, que nós, mortais trilheiros, pudemos atingir. Lá tem uma placa indicando a altitude: 4.600 metros acima do nível do mar. Foi uma vitória, comemorada com fotos e as mãos enterradas na neve gelada da montanha!


Retomamos a trilha com mais empolgação, pois daí para a frente era só descida. Com muitas pedras no caminho, então, cuidado com os joelhos, precisamos chegar em Matchupicchu! Descemos acompanhando a cadeia do Salkantay, tirando muitas fotos. De repente, pingos dágua. Oh, oh... Apressa o passo até o acampamento, para almoçar antes da chuva cair.


Mal deu tempo de almoçarmos e a chuva chegou. Puxa poncho, veste anorak, e lá fomos nós na direção de um vale sob uma chuva calma, que por causa da baixa temperatura começou a congelar. Neve! Quanto mais descíamos ia também mudando a paisagem. A aridez foi dando lugar a uma floresta, no início rala como um cerrado brasileiro, mas quanto mais andávamos, mais a floresta engrossava. E a chuva continuava...


Andamos por horas, descendo um vale imenso, cortando a floresta, com a chuvinha caindo. Mas o ar ficava cada vez melhor de respirar! Até que, quase não aguentando mais, no final do dia surge o bendito acampamento que fica no entroncamento de cinco vales, a 2.800 metros de altitude. Ufa! Foram mais 18 quilometros de caminhada, mas dessa vez sentimos muito pois a subida do Salkantay judiou.


Logo o acampamento foi ficando cheio, com as pessoas dos outros grupos chegando. Uns bem, outros arrastando-se. Nosso grupo estava inteiro, apesar do cansaço. O Juvenal já estava nos esperando com o jantar quase pronto. Fomos dormir cedo, mais uma vez sem banho, pois encarar uma água gelada naquela altura não ajudaria muito.


O Apu Salkantay ficou para trás, nas lembranças e nas fotos. Essa contaremos aos netos!


E las coxitas? Están bambitas... ;-)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Trilha dia 1: Rumo ao Salkantay

Começamos a jornada rumo ao monte Salkantay com o objetivo de chegar ao santuário de Machupicchu, no quinto dia de caminhada. Tivemos que acordar cedo pois às 5h uma van passou no hostal para nos transportar. Nela já estavam o restante do nosso grupo, que por coincidência eram 3 brasileiros, também vegetarianos. Estava começando uma nova fase da viagem, pois poderíamos conversar em português, já que na primeira fase foi em espanhol (na verdade portunhol) com o Max e a Claudia, na Bolívia, e na segunda fase em inglês, com o holandês Jesse. Os brasileiros que estavam no grupo conosco são o Alessandro Lohmeyer e a Luana Wedekin (casados), e o Leonardo Wedekin, irmão da Luana. Eles são de Floripa, mas o Leonardo está morando na Bahia.


O dia foi amanhecendo bonito, com sol, prometendo uma linda trilha. Viajamos umas 3 horas a partir de Cuzco até chegar em um povoado onde foi possível tomar um desayuno (café da manhã) reforçado para encarar a caminhada. Nesse momento tivemos contato com o nosso guia, o Carlos Chuchullo, um peruano gente boa que falava muitas coisas sobre o Brasil. "Brasil, o mais grande do mundo!" era o seu clichê, que depois descobrimos ser uma brincadeira que eles fazem em referência ao Pelé. É impressionante como a maioria das pessoas, de qualquer nacionalidade, simpatizam com o Brasil... :-)


Estávamos a 2.800 metros de altitude e a caminhada começou numa estradinha bucólica do povoado, em meio a plantações e criações de animais. Haviam também outros grupos com guias, aproximadamente umas quarenta pessoas na trilha. A Trilha do Salkantay é uma alternativa à Trilha Inka, na qual entram 500 pessoas por dia. Mas como é mais dura e longa, e com um dia a mais de caminhada, um número bem menor de pessoas a encaram, cerca de 30 a 50 por dia. Pessoas do mundo todo...


Iniciaram as subidas! Não demorou para algumas pessoas começarem a passar mal... Juntamente com os mochileiros e guias, acompanham o grupo um cozinheiro e um ajudante, com alguns cavalos e/ou burricos, levando as coisas para o acampamento (barracas, panelas, comida, etc.). Eles levam alguns cavalos extras para revezar a carga durante o caminho e para apoiar as pessoas que estejam sem condições físicas de continuar. Já na primeira subida uma norte-americana pediu um cavalo. Não dá para subestimar a altitude!


Seguimos subindo durante umas 3 horas, descansando um pouco de hora em hora, até chegar no ponto de almoço do primeiro dia. Nosso cozinheiro Juvenal já estava nos esperando com a comida pronta. Foi uma festa! Depois de horas caminhando qualquer coisa vira um banquete, mas a comida do Juvenal, totalmente vegetariana, realmente nos surpreendeu. Estar bem alimentado na trilha é importante pois gasta-se muita energia.


Depois de uma pausa retomamos a trilha, que logo a frente revelou um vale imenso com uma montanha nevada ao fundo. Era o Apu Umantai, uma das principais montanhas da cordilheira dos Andes central. É para lá que fomos, em busca da montanha pelo resto da caminhada. Algumas horas à frente, e depois de muitas fotos, estávamos chegando ao pé do Umantai. Lá já estava montado o nosso acampamento e o Juvenal já havia começado a fazer o nosso jantar.


Quando chegamos, após ter caminhado 18 quilômetros, o Umantai nos revelou ao lado direito seu antigo companheiro, o Apu Salkantay. Os nativos consideravam as montanhas como lugares sagradas, são a casa dos deuses, por isso seu nome começa com "Apu". Dizem que as montanhas tomam vidas, por isso sacrificam animais em oferenda a elas. Segundo o nosso guia, até hoje nenhum homem chegou ao "cumbre" do Salkantay, todos os que tentaram não voltaram. A subida é muito íngreme, o que dificulta a gelada escalada.


A água do degelo do Umantay e do Salkantay formam o rio Urubamba, que torna-se mais adiante o nosso rio Amazonas, daí a importância destas montanhas. E por falar em degelo, estava frio, muito frio, e a noite, dormindo em barracas, ficou pior. Vestimos todas as roupas que tínhamos para deitar dentro do saco de dormir, e mesmo assim ele não deu conta, os pés ficaram gelados como picolé.


Foi uma noite mal dormida, que nos incomodou um pouco pois no outro dia o desafio seria grande: Subir o Salkantay! Mas isso não é nada, pois ver as montanhas dos Andes a noite, iluminadas pela lua, e dormir aos seus pés, não tem preço!


E as coxas começaram a ficar bambas... ;-)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O Vale Sagrado dos Incas

Cusco foi o principal centro do Império Inca e no seu perímetro há muitos templos e ruínas Incas que são incríveis e desvendam segredos e costumes daquela época. Como só tinhamos mais um dia em Cusco, antes de entrar na trilha Salkantay, aproveitamos para fazer o passeio pelo Vale Sagrado. O tíquete de ingresso para o passeio completo no vale custa 120 soles e é válido por 15 dias, pois são muitos lugares para visitar, mas compramos o ingresso parcial de um dia por 70 soles, com direito a visitar 3 lugares: Ollantaytambo, Pisaq e Chinchero.


Começamos por Pisac, que são ruínas do que foi uma cidade Inca que ficava entre Cusco e Machupicchu. É uma cidade construída na montanha onde eram cultivadas muitos vegetais que serviam de alimento ao povo Quechua (os Incas eram somente os governantes). Eles utilizavam uma técnica chamada de terrazas para aproveitar o declive da montanha, criando microclimas próprios ao cultivo e evitando a erosão.


De frente para a cidade um vale lindo, a montanha do outro lado do vale era um cemitério com covas escavadas no paredão, de díficil acesso. Centenas de múmias foram saqueadas destas covas e hoje restaram somente os buracos do que é possível ver a partir da cidade. É impressionante conhecer o sistema hidráulico que eles criaram, drenando água da montanha que passava por dutos de pedra pela cidade inteira.


Depois seguimos para Ollantaytambo, passando por pequenos povoados do interior do Peru, onde paramos para almoçar e provar a comida local. Nesses povoados a maioria das casas são bioconstruções feitas de tijolos de adobe e ligados com o mesmo material argiloso. Muitas delas tem revestimento feito com uma mistura de terra fina (saibro) ou com massa fina. O teto é feito com uma camada de bambus onde é feita uma lage de adobe e cobertura de folhas metálicas ou palha. Isso chama muito a atenção pois a grande maioria das casas, por todos os lugares que  passamos no Peru e na Bolívia são feitas assim, exceto no deserto onde há muitos terremotos e as casas precisam de cintas e vigas de concreto mais resistentes.


Ollantaytambo é fantástico, visite-o! ;-) Uma fortaleza que parece uma enorme pirâmide e nos deixa admirados sobre como naquela época eles quebravam, transportavam, poliam e encaixavam com tamanha precisão tão grandes pedras vindas do outro lado do vale. O lugar é imenso e construíram uma cidade nos vales e montanhas. Hoje é uma cidade contruída sobre as muralhas Incas. É lá que começa a trilha Inca e os Chasques (mensageiros), naquela época, levavam mensagens de Cusco a Matchupicchu, passando por Ollantaytambo, em apenas 5 horas (o trem leva 4 horas e nós levamos 5 dias caminhando :-)), isso tudo mastigando muita folha de coca...


Quando os espanhóis chegaram e derrubaram o Império Inca, começaram a saquear e destruir os templos Incas, substituindo-os por templos católicos. Como Ollantaytambo era rota para Matchupicchu os próprios Incas destruíram boa parte dos templos e do caminho Inca para evitar que os espanhóis chegassem em Matchupicchu. E conseguiram, Matchupicchu só foi "descoberto" no século XX por um pesquisador americano.


Saímos de lá com contade de ficar mais, mas era hora de ir para Chinchero. Foi interessante, apesar de ser uma vila mais, digamos, comum, eles demonstram todos os costumes e tradições de como se cultivam os alimentos e como eles fazem os tecidos, colorindo-os em um processo totalmente natural e artesanal.


Uma pena que não deu para conhecer os outros lugares do Vale Sagrado, como  Moray, Tambomachay, Pukapukara, Q'enqo, Saqsayhuamán, Tipón, Pikillacta, entre outros, mas estávamos sem tempo e precisávamos nos concentrar e descansar pois o maior desafio da viagem estava chegando: A trilha do monte Salkantay. Matchupicchu, aí vamos nós... ;-)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mochilada em Cusco

Chegamos cedo no terminal de buses de Cusco, eram 5h da manhã quando desembarcamos, naquela confusão que sempre são os terminais rodoviários por aqui. A Sra. Maria Sotomaior já estava nos esperando e nos encaminhou para o hostel Camilah Lodge, que havíamos reservado ainda em Puno por 30 soles, então, fomos dormir um pouco. Acordamos em torno de 8h30 para aproveitar o desayuno, o Jesse foi comprar um bolo surpresa para a Rafa. Era o seu aniversário! Cantamos os parabéns em inglês mesmo, pois haviam outros estrangeiros junto, e a Rafa repartiu o bolo com todos e com o pessoal do hostal também. Foi divertido...


Depois saimos para conhecer a cidade, caminhar um pouco. Cusco é a quarta maior cidade do Peru, e está numa altitude de 3.400 metros. É uma cidade fundada pelo império Inca, seu principal centro, e refundada pelos espanhóis no século XVI, portanto, uma cidade bastante antiga que mistura duas culturas. Tem muita coisa interessante para se conhecer. Difícil é encarar o trânsito, cuja lógica é FIFO (first in first out), o primeiro que chegar, passa. E as buzininhas, ai as buzininhas... :-)


Cusco tem muitos templos, pois na época da colonização os espanhóis construíram-nos para mudar a cultura e a religião, substituindo os costumes Quechua por Europeus. Fomos visitar alguns deles, por exemplo, o conhecido San Blas, mas o que realmente chama a atenção é a Plaza de Armas, onde sentamos e ficamos horas olhando o intenso movimento de pessoas. No Peru todas as cidades tem uma Plaza de Armas, que estão sempre lotadas até a noite e onde nos finais de semana são realizadas as comemorações festivas da cidade.


A noite concluímos a comemoração tomando uma Cusqueña (cerveja), com vista para a Plaza de Armas. Era também o momento de nos despedirmos do Jesse, que começou no outro dia um curso de espanhol. Aliás, excelente opção a dele pois por $120 dólares semanais ele tem um professor particular, mora na casa de uma família e tem 3 refeições diárias incluídos no pacote. O Jesse ficará em Cusco por uns meses enquanto nós seguimos a nossa viagem.

 

A Rafa gostou e disse que foi um aniversário muito diferente... ;-)